1. Olá, Kataphero! Primeiramente agradeço em nome da G.Grind a oportunidade de entrevista com vocês. Logo de cara, quando se conhece uma banda, depara-se com o nome que escolheram para ela. Kataphero é um nome soa tão forte quanto a proposta de som de vocês. Qual é a história por trás dele?
Nós que agradecemos a oportunidade da conversa, Cat. Bem, no inicio da banda nós já tínhamos composições e estávamos ensaiando para gravação da demo. Como nossa influência vinha do metal extremo da Grécia, procuramos palavras em grego para reforçar essa ideia. De acordo com a proposta da banda, partimos do prefixo kata: “para baixo”, “sob”, ou até mesmo “contra”. Kataphero seria, literalmente, colocar algo para baixo; ou algo como “sobrepujar”. Porém, hoje em dia, ela assume vários significados. Sozinha, inclusive, ela não faz sentido. Já as formas mais utilizadas no grego atual são Katapherno (eu consigo) Na Kataphero (eu consigo), Tha Kataphero (vou conseguir). E, segundo um colega grego: “na verdade, ‘conseguir’ também não é uma tradução boa”. Enfim... Kataphero é a banda. (E pronuncia-se cataFÉroh; com “e” aberto e “o” com som de “o”, não com som de “u” comum no português.)
2. Pessoalmente, me intrigam logos que as bandas criam, porque estes a representam em qualquer lugar que são vistos. É como se o logo chegasse segundos antes ao público do que o próprio som. Assim, como foi criar o de vocês?
Nossa primeira logo, por questão mais imediata, surgiu de uma fonte comum. Escolhemos mais pela necessidade do lançamento da demo (tivemos que gravar e lançar uma demo para entrar em um pequeno festival: que foi nossa primeira apresentação). Depois, com mais calma, optamos por criar um logo que representasse nossa proposta.
3. “We are nobodies” é o que se vê quando se procura sobre os integrantes na página da banda no Facebook. Como foi escolher esses “nobodies”?
Somos apenas pessoas reunidas com uma banda, como qualquer outra. Não lembro quando isso foi colocado lá na página. Acho que foi o David (guitarrista). Sinceramente, não sei porque está assim; também não vejo problema. O foco acaba ficando mais no que a banda produz do que nos indivíduos. (Apesar de, no meu ponto de vista, achar interessante conversar com as pessoas.)
Da esquerda para a direita: Mello, Santiago, Cantídio e Somenzari
4. Cada um tem uma vivência, carrega experiências com muitos tipos de som – nem sempre só do mundo do metal – e isso contribui imensamente para a identidade de um grupo musical. O que cada um de vocês trouxe como influências para o Kataphero?
Nas primeiras formações soava mais a linha das bandas de metal extremo da Grécia, pois era uma influência unânime dos membros. (Antes da Kataphero, no final dos anos 90, já tínhamos tocado – inclusive juntos – em bandas nessa pegada mais cadenciada). Com a atual formação, as composições mais retas foram dando lugar a mais elementos rítmicos e variações harmônicas. Sempre comentamos que nem sempre nossas influências são do metal ou até mesmo da Música – nos inspiramos muito em outras formas de arte.
5. Agora, falando um pouco mais de som, a partir dos álbuns que já lançaram, ‘Life’ e ‘From Dust’, se percebe uma inclinação a lançar álbuns mais conceituais. Por que desta preferência?
Como iniciei compondo e gravando sozinho as músicas sem pretensão de formar banda, lançar álbum, etc., o “Life” (2012) se tornou um apanhado de todas as músicas que eu vinha compondo desde 2008. Ainda durante o processo de pré-produção, em 2011, começamos a compor novos materiais para um álbum futuro. Com a mudança de formação, começamos a discutir o próximo projeto e chegamos a ideia do álbum conceitual através de uma história quase pronta do David. Decidimos fazer seguir essa ideia porque achamos que seria interessante não só o resultado, mas também o processo.
6. Focando mais no primeiro álbum, o magnífico ‘Life’, contem-nos um pouco de como foi o processo de composição e gravação. Lembro-me de ter assistido a algum vídeo que falavam sobre a arte de capa, o artwork incrível feito por Ricardo Tinoco.
Como
falei anteriormente, o “Life” foi um apanhado de todas as músicas que
vinha compondo desde 2008. Com os ensaios em 2009, demo e os shows em
2010, começamos a pré-produção em 2011. Lembro que ensaiamos bastante
para a gravação; gravei guitarras e samples com metrônomo para ensaios
específicos de bateria e voz. Gravamos a bateria em um dia, como
programado, e o restante foi gravado no meu homestudio. A arte foi feita
pelo Ricardo Tinoco, artista plástico da nossa cidade, que possui um
ateliê onde ministra cursos de desenho artístico para crianças e
adultos Atelie Ricardo Tinoco.
'Life' é, de fato, magnífico desde sua arte de capa por Ricardo Tinoco
7. Recentemente, vocês fizeram uma tour do ‘Life’ aqui pelo Sudeste, certo? Como foi para vocês esta experiência? Como sentiram a galera daqui recebendo a banda Kataphero?
Fizemos uma pequena turnê passando pela Bahia, Minas Gerais e São Paulo. Foi uma experiência interessante pois conhecemos pessoas e lugares importantes para nós enquanto banda, músicos e seres humanos. A recepção variou bastante... Acho que não dá para avaliar estados e cidades assim facilmente, principalmente pelo fato de termos ido pela primeira vez; e, ainda assim, toda a atmosfera depende muito do dia, da divulgação, das pessoas ali presentes. No geral, nos sentimos bem acolhidos e respeitados em todas as cidades por onde passamos nesses três estados.
8. O recém-lançado ‘From Dust’ também se mostrou um ótimo trabalho, feito com a mesma maestria do Kataphero que vimos no projeto anterior. Como foi produzi-lo? Foi mais trabalhoso do que ‘Life’?
Os processos de composição, pré-produção e gravação foram bem diferentes. A banda se envolveu em mais atividades nesse último álbum. No “Life” iniciei as composições sozinho, escrevendo letras e músicas. Sempre gravando em casa, inclusive programando a bateria e os arranjos dos samples (ambientação e orquestração). Durante os ensaios reorganizávamos os detalhes das músicas e, sempre que possível, eu regravava para ouvirmos com mais calma como soaria. Já falei dos ensaios que fizemos na pré-produção: muitos com a banda para definir arranjos, viradas, etc.; e alguns deles só com voz e bateria – ou somente a bateria (visto que o baterista precisava ir o estúdio treinar as músicas).
No “From Dust” partimos de uma história criada pelo David e da ideia em fazer um álbum que seguisse a estruturação de tragédia grega. Tivemos que relacionar acontecimentos da história em pontos essenciais de uma tragédia, organizar a fluidez da narrativa em tópicos para limitar o que cada música abarcaria. Deixamos a bateria do Lucas toda microfonada e sempre que necessário gravávamos. Enfim, foram processos bem diferentes, cada um com suas dificuldades e demandas de trabalho. Acho que o processo do “From Dust” foi mais intenso pelo fato de se ter mais mentes envolvidas em um espaço de tempo menor (em relação ao “Life”), porém com mais encontros e “facilidade” de trabalho – planejamos tudo desde os pequenos passos iniciais para compor. Não acho que ambos os álbuns foram trabalhosos no sentido de carregar um peso no processo; todos demandaram trabalho, que nós nos comprometemos a realizá-lo. E deram certo... Assim como dará a segunda parte da história, nosso terceiro álbum: “To Dust”, que segue o mesmo processo – com boa parte já pronto.
A arte de capa de 'From Dust' é a representação de uma pintura rupestre por Genival Jr e Leonardo Matos.
9. Percebe-se que o Kataphero é bem presente na ‘cena local’, seja tocando em diversos festivais na região nordestina ou participando de coletâneas de bandas do Nordeste – como a ‘Conquerors Of Brazil: Northeastern Extreme Metal Legions’ -, o que mostra que o apoio ali é bastante denso. Como o Kataphero é encarado por seu público?
Não somos uma banda tão ativa o quanto queremos, mas procuramos manter apresentações esporádicas, seja em festivais ou shows interessantes por aqui. Realmente, recebemos apoio de várias pessoas e isso facilita bastante em escalações de shows, festivais, coletâneas e afins. Além da Conquerors of Brazil, participamos de um tributo brasileiro “Em nome do medo” ao Moonspell de Portugal com a música Once It Was Ours. Já recebemos outros convites para coletâneas que não se concretizaram. Recentemente participamos de uma entrevista online pela Radio RockMetal que pode ser escutada aqui: Kataphero na RockMetal. Creio que nosso público cria expectativas positivas sobre nossas músicas e apresentações. Isso demonstra que, de alguma forma, as pessoas tem procurado algo na banda: seja uma particularidade no som, seja a maneira como nos apresentamos, ou ambos. Além dos bangers, recebemos feedback de pessoas que não costumam conviver no meio do metal, mas que escutam nosso som e comparecem aos shows. Isso é bem interessante e nos traz uma imensa satisfação.
10. Kataphero teve oportunidade de dividir palco com os gregos da Rotting Christ, uma banda similar a vocês, segundo o Encyclopaedia Metallum. Contem-nos sobre como se deu tal evento!
O show foi a primeira data da Rotting Christ no Brasil para a turnê de 2013. Foi organizado pelo grande Mitchell (ex-Hammeron, ex-Sanctifier) e contou também com Primordium e Sanctifier na abertura. Foi um evento muito profissional e histórico para o nosso estado.
11.
Algo pungente que vejo, quando ouço ou acompanho vídeos/shows do
Kataphero, é a ênfase que dão ao lado mais teatral que toda
música/apresentação tem – seja como a participação da Bololô Cia. Cênica
na maravilhosa ‘Entities’ no show com a RC ou pela postura de sempre de
vocês no palco -. Qual a importância dessa ênfase para a banda?
Sempre
partimos do princípio artístico, da criação e comunicação do que
queremos passar. Primeiramente, transmitimos isso através da música
porque é isso que sabemos fazer. Mas reconhecemos que há outras formas
de comunicar aquilo que queremos. Fizemos um espetáculo (Lifetime, em
2012) em um teatro aqui em Natal, através do edital cultural Cena
Aberta, que envolvia música, cenário, vídeo, teatro/performance e coral.
“Entities” (apresentada na abertura pro Rotting Christ em 2013) foi o
nome que demos a faixa que estávamos compondo desde 2011, ainda durante
as gravações do “Life”. (Na verdade, ela está dividida em dois momentos,
são as faixas Bleak e Seed do “From Dust”.) O Bololô Cia. Cênica é um
grupo com o qual temos sintonia, além de “Entities”, eles participaram
do espetáculo Lifetime, e do clipe de Ekstasis que sairá em 2016.
Resumindo, sempre buscamos nos expressar através daquilo que nos parece
válido.
Figurino e maquiagem da equipe Bololô Cia. Cênica para a performance 'Entities'. Confira aqui
12. Vendo fotos, repara-se que vocês adotam visual próprio em algumas ocasiões. Como é casar o visual com a sonoridade?
Desde que começamos o processo de composição do “From Dust”, optamos por reforçar essa ideia das expressões válidas. Decidimos compor o figurino baseado na história por trás desse álbum e do próximo, o “To Dust”. Fizemos com nosso amigo Juão Nin da banda Ak-47 (que, inclusive, atualmente reside em São Paulo) e com Fátima Rocha, que trabalha com muitos figurinos artísticos para teatro em Natal.
13. Creio que com um som único como o que vocês fazem, as reviews e prêmios não tardariam a chegar. Como se sentem ao ler resenhas de zines como Stay Heavy, Heavy Nation, entre outros sites? E quanto a indicações de prêmio como o Hangar de música?
É extremamente satisfatório saber que há pessoas interessadas na nossa arte. Encontrar resenhas, comentários e críticas nas mídias nos deixam bastante motivados. O Prêmio Hangar de Música é uma premiação que visa reconhecer, valorizar e incentivar a cultura da nossa cidade e do nosso estado. Nos sentimos pouco deslocados porque foi a primeira vez em que fomos indicados e justamente como Banda do Ano em 2014. Mas, enfim... Foi muito legal saber que o metal extremo é reconhecido no meio popular e enquanto cultura da nossa cidade, do nosso estado e, consequentemente, do país.
14. Agora falando um pouco sobre um futuro não tão distante, vê-se que começaram a gravação para o clipe ‘Ekstasis’. Como tem sido? Qual a previsão de lançamento?
A experiência foi fantástica. Viajamos para Porto do Mangue, 240km de Natal, basicamente uma grande vila de pescadores com pouco mais de 5 mil habitantes. Filmamos nas Dunas do Rosado, cenário bem conhecido de produções brasileiras. Acordávamos de madrugada e partíamos para as dunas levando todo o equipamento com o carro até onde conseguíamos... Depois tínhamos que subir dunas e mais dunas a pé com tudo nos braços. Tudo escuro para montarmos os equipamentos, cenografia e figurino. Amanhecia e gravávamos até a hora do almoço. Voltávamos para a cidade só para comer e depois retornávamos às dunas. Mesmo processo. Até escurecer. A pousada servia de QG para avaliarmos o dia e reorganizar o dia seguinte. Foi intenso e difícil, mas muito bom. Tínhamos a previsão de lançar o clipe ainda em 2015, mas estancamos devido a um problema de saúde com nosso brother Ícaro Firmino (ex-Hostile Inc) que dirigiu e está editando. Acreditamos que em Janeiro lançaremos o clipe de Ekstasis.
Durante a gravação do clipe de 'Ekstasis' nas Dunas do Rosado. Foto por Maximiliano Leguiza
15. Ainda sobre futuro, como está a agenda de shows da Kataphero para este fim de 2015?
Em Novembro, participamos do Festival DoSol novamente, nas edições de Natal, e nos interiores do RN: Caicó e Santa Cruz. Agora em Dezembro, faremos nosso último show dia 18 com a Primordium e a Domination (Pantera cover) no Whiskritório.
16. Para finalizar esta entrevista, novamente agradeço em nome da G.Grind pelo tempo e atenção de vocês, desejo conquistas e sucesso para vocês todos e deixo este espaço livre com o Kataphero!
Nós que agradecemos, Cat. Obrigado pela conversa, pelo espaço cedido à nós e pelos votos positivos. Para qualquer contato nos procure nas mídias digitais. Abraço a todos!