Mostrando postagens com marcador resenhas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador resenhas. Mostrar todas as postagens

domingo, 11 de setembro de 2016

Itself: Make My Suffer Short



País: Brasil
Gênero: Death/ Thrash Metal

Membros: 
Estevan Furlan - Baterista/ Vocalista
Ricardo Falcon - Guitarrista/ Baixista



Depois de muito tempo sem resenhas, agora de volta e não teria forma melhor de voltar sem ser falando de uma banda nacional e ainda de São Paulo, cidade essa que consegue puxar o amor e o ódio de todos. Ódio que foi muito bem concentrado nas faixas do álbum Make My Suffer Short da banda Itself.

Apostando em uma sonoridade de Death/Thrash Metal a banda não pensa de uma forma infantil em suas musicas e se preocupa com tudo, desde uma arte de capa bem feita até mesmo com cada momento da musica que vai ter uma pegada mais intensa ou até mesmo uma densidade no instrumental.

Make My Suffer Short é o exemplo vivo de como juntar o Death Metal com o Thrash de forma totalmente compatível e de qualidade excelente. O vocal não utiliza um gutural mais fechado, dando espaço assim para algo mais Thrash ou Death das antigas.
Todos os instrumentos são bem nítidos e o pedal duplo deixa ainda mais interessante essa música que é um delírio.

O momento mais impactante do álbum chega com a faixa "Guess Who I Am" que tem um começo que realmente surpreende, mas vamos por parte.
Um ponto extremamente positivo que fica claro nessa faixa é a qualidade da gravação. O baixo ficou extremamente nítido, a guitarra consegue ganhar seu espaço e não deixa a qualidade rápida e ácida do Thrash sumir. O pedal duplo sendo utilizado de forma inteligente e junto com o riff de peso mostra realmente que essa faixa é excelente.

Guess Who também apresenta a qualidade individual de cada músico que conseguiu surpreender, muito pelo fato de Estevan Furlan ocupar a bateria e o vocal, isso mostra uma versatilidade muito grande e Ricardo Falcon conseguiu construir atmosfera e peso trabalhando com o baixo e a guitarra.

Itself apresenta para a cena nacional excelentes músicos e um ótimo trabalho que consegue deixar ainda mais rico esse lugar que infelizmente ainda está no underground, mas a qualidade prevalece e de forma merecida a banda tem um trabalho que ficará eternizado no Death/Thrash Metal verde e amarelo.




Escrito por Renan Martins

domingo, 29 de maio de 2016

Blood Ages: Godless Sandborn


País: França
Gênero: Death Metal
Banda:  Pierre “Peyo” Borial – Baixista
Yohan Frit
– Baterista

Augustin Raupp
– Guitarrista

Pat “Billy” Berbié
– Guitarrista

Nicolas “Aniki” Gandolphe
– Vocalista



Godless Sandborn, a destruidora obra lançada via Mighty Music.

Saber ser único é algo que aprece ser super simples para essa recente banda que aparece trazendo seu mais recente lançamento em 2016 tendo apenas um álbum anterior, o intitulado “At the Height of the Storm” que apresentou o poder da banda de uma ótima forma, mas nada tão impressionante quanto Godless Sandborn.

Mais que apenas um álbum, a banda consegue grudar em sua mente e penetrar no seu sangue mostrando uma sonoridade totalmente compatível com seus temas de mitologia e Orientalismo.
A construção de melodia da banda é realmente muito boa. A bateria que sempre aparece no Death Metal construindo um caos total com um pedal duplo extremamente rápido aparece em algumas faixas de forma pausada e que consegue com apenas algumas batidas juntas de outras partes da bateria, fazer assim uma excelente forma de criar uma atmosfera carregada que te joga para um mundo de poesia, papiros e areia dissolvendo seus pesadelos em uma realidade única.
He Who Came To Defile The World é uma forma mais impactante da banda mostrar seu denso lado do Death Metal.

Um baixo extremamente carregado que te pega pela alma e leva para as tumbas, uma musica ótima que consegue mostrar o lado mais focado dentro do gênero.
From The Void To The Throne consegue transmitir os segundos iniciais de forma grandiosa e que mostra o monumental mundo dos temas de Orientalismo. Uma guitarra muito bem utilizada conseguindo mostrar seu tom agudo e fazendo melodia de forma perfeita que se junta com os pratos da bateria conseguindo deixar um ar mais aberto para dar um contraste com o vocal fechado em gutural growl.

Musica nenhuma dentro do álbum consegue representar melhor o que é essa banda que a faixa “The Ritual: Soil Of The Crawling Chaos” que carrega uma introdução excelente mostrando uma forma muito bem pensada dentro da hora de criar.
Batidas fortes e bem isoladas fazem a atmosfera ficar cada vez mais carregada, o baixo cria uma base para o nascimento de uma obscuridade, a guitarra aos poucos aparece e consegue mostrar um lado bonito e bem feito com a bateria já deixando de ser tímida e trabalhando utilizando suas peças de forma muito bem pensada, uma faixa digna do começo ao fim e que consegue dentro dos seus 8 minutos não cansar em momento algum.

Próximo de seu fim, The Ritual: Soil Of The Crawling Chaos pega no ódio e mostra o gutural denso em gutural que consegue em alguns momentos fechar chegando no próximo e as vezes chegando no pig squeal mais fechado, uma ótima junção, uma excelente banda e que realmente conseguiu surpreender.

Mighty Music nunca acertou tanto com um lançamento, realmente uma banda que vai trazer ainda muitas musicas de ótima qualidade e que consegue mostrar apenas com 2 lançamentos que tem postura profissional e que representa e honra com os temas de suas letras formando verdadeiros mundos em cada musica.




Postado por Renan Martins

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Talrak: Paralysis



Localização: Sorocaba, SP

Matheus Scarlate (vocal, guitarra)
Bruno Jokubauskas (baixo)
Leandro Menossi (bateria)
Luis Doda (guitarra, backing vocals)

Gênero: melodic death/ black metal



Eis aqui o primeiro trabalho da sorocabana Talrak e seu melodeath com traços de black metal. Lançado no início de Maio de forma independente, o conceitual ‘Paralysis’ traz um fenômeno quase místico e desacreditado por muitos: a paralisia do sono.

Antes dos ouvidos perceberem o som, os olhos percebem a arte de capa e vale muito a pena dar a justa atenção que esta merece. A escolha do designer Marcus Zerma pelo cinza como única cor foi extremamente pontual, pois evidencia muito bem a atmosfera do fenômeno. A atmosfera que passa é impactante, mas é também serena. É como uma cena gravada numa carta de tarot, adornada como um camafeu. A expressão da moça é tranquila, seus olhos “externos” fechados indicam que ela dorme, seu terceiro olho aberto indica que sonha. Sim, dorme e sonha, mas o cenário à sua volta é quase prova de que levita a céu aberto, evidenciando os testemunhos sobre o tal fenômeno.

Agora, falemos de som. Uma boa faixa instrumental como intro é capaz de inserir o ouvinte em qualquer ambientação que se deseje, mas é preciso maestria para atingir tal efeito. “Prologue” é eficaz nisso. Etérea e quase alienígena são alguns termos para defini-la. Seus riffs bagunçam as ideias no fluído de espaço e tempo que escorre pela curta música. Fluídas assim, essas dimensões montam uma realidade na qual o ouvinte é ser intrínseco aos sonhos de alguém.

“Symbolizing Artifacts” aparece sem qualquer aviso. O pedal duplo nesta faixa vem para cadenciar e dar movimento à atmosfera densa e obscura criada por “Prologue”. Os vocais, sempre em sintonia, entram no momento correto. A música cresce até certo máximo e depois volta à melodia inicial, sem perder poder. Os últimos riffs quase tornam possível que o ouvinte sinta ácido percorrendo sua pele (referência à parte da letra: “Let me feel the acid running through me”).

    “Ancient Etruria” quebra totalmente a atmosfera criada pelas duas anteriores e traz a sua própria. Leveza e mistério dividem espaço nesta faixa. É como se, trancado em seu quarto, você despertasse de um sonho em que passeia por uma floresta negra sob lua azulada e neve. A música te acompanha na felicidade de um sonho tão agradável, mas depois te faz olhar para a janela, ali tão estranhamente escancarada e logo você vislumbra um de seus ombros e sobre ele misteriosamente minúsculos flocos de neve derretem.

Da esquerda para a direita: Doda, Jokubauskas, Menossi e Scarlate. Foto por Jéssica Dias Gomes


A quarta música é, sem dúvida, a melhor de ‘Paralysis’. Intro matadora, com distorções no ponto certo. Naquele ponto certo em uma banda no qual a linha entre o black e death é tênue. As duas guitarras se apresentam muito bem casadas durante toda a música. O baixo dá a profundidade requerida para acompanhar a letra vociferada e, ainda assim, nítida e impecável pelo vocalista (referência ao refrão: “Taste of the killing, smells of blood / The last breath, make those blood mud” ). A bateria aparece com o poder de te destruir da forma mais rápida possível. Isso porque você só a sente vibrar, por meio de pedal duplo insano e depois pratos, ambos bem intercalados. Os milímetros que separam “Pleasure of Unfair” da perfeição são os infelizmente poucos minutos de música.

Finalmente a autointitulada chega. “Paralysis” traz para a bateria a chance de dar conta de uma intro já muito pesada. E assim, ela perdura, tempestuosa, irrequieta, mas vai morrendo em fade out por uns bons segundos, até sumir súbita e completamente, a exatos modos de como dizem ocorrer durante o fenômeno. A ênfase nesta faixa é claramente para os vocais, até porque nesta faixa temos quase uma descrição poética em gutural do que acontece nesta experiência. Um bom exemplo encontra-se no refrão: “Every second, is like a century / Drowned and raped mentally / Every second, is like a century / Strangled and hanged with intensity”.

“Cursed By the Real Vision of Knowledge” é uma das faixas mais death metal do álbum. Começa em riffs diretos, torna-se bastante melódica até entrar o gutural. A troca constante de tempo nesta faixa, a torna dinâmica o suficiente para não saturar o ouvinte. Destaque para o solo, curto, porém muito bem pontuado, nos segundos finais da música. Pegando referência e licença poética para com o refrão: nossa mente é torcida e retorcida pela faixa, mas não consegue ver a perdição porque aqui novamente temos uma música curta demais para a qualidade sonora que ela apresenta.

A última música chega. “Inquisition Philosophy” chega para fechar o EP com todo o peso que uma última faixa geralmente tem. Essa faixa intercala entre ser mais puramente death e melódica. E quando é melódica, é quase impecável. Destaque valiosíssimo para os solos do meio para o final da música. Vocais principal e de apoio foram muito bem empregados nessa música. Os segundos finais de “Inquisition Philosophy” retomam um pouco da mesma atmosfera criada por “Prologue”, só que muito mais brutal, agressivo do que a faixa de intro ao EP.

Enfim, há bandas que são incríveis desde seus primeiros trabalhos. Este é o caso da Talrak, porque ‘Paralysis’ se mostra um surpreendente ótimo começo. Que os futuros trabalhos da Talrak tenham músicas um pouco mais longas e que continuem como diz a última faixa do EP: “Resist... Exceeded... Improving... Rising...”.



Postado por Caterine Souza

domingo, 15 de maio de 2016

Psycroptic: The Inherited Repression



Localização: Australia
Gênero: Technial Death Metal
Banda: Cameron Grant - Baixista 
David Haley - Baterista 
Joe Haley - Guitarrista
Jason Peppiatt - Vocalista



Tasmania, o local do nascimento da banda Psycroptic que carrega seu Technical Death Metal caótico, poético e mortal.

Desde 1999 a banda apresenta um som excelente conseguindo fãs pelo mundo todo e mostrando sempre como ser completa, prestando atenção em cada ponto, cada segundo e detalhe de suas músicas e até mesmo de suas artes que muitas vezes são dignas de por em um quadro em um museu.

The Inherited Repression foi o álbum da banda que mostrou logo em sua arte que realmente a banda estava querendo superar o que já tinha feito e de fato conseguiu. Saindo via Nuclear Blast Records a banda apostou em 9 excelentes faixas e com isso não perdeu tempo em mostrar que a qualidade estava desde o primeiro segundo da primeira faixa.

Carriers of the Plague abre o álbum de forma atmosférica e consegue logo em seu começo mostrar o trabalho excelente do baterista que explora cada parte da bateria sem deixar ficar repetitivo e sabendo utilizar da melhor forma possível o pedal duplo, dando com ele uma atmosfera pesada e que faz a terra tremer. O baixo é totalmente nítido, é possível escutar como ele se junta ao restante dos instrumentos e consegue fazer uma base para o vocal mais aberto e isso faz a música ser ainda mais impecável.

Com esse nível mestre, a banda começa o álbum da melhor forma possível, e não satisfeita a segunda musica intitulada “Forward to Submission” começa dando um destaque para a bateria e aos poucos todos os instrumentos vão entrando em sintonia. A guitarra apresenta uma forma linda de postura na música, riff’s muito bem pensados e que não necessariamente estão focados em trazer um peso absoluto na criação da música.
O vocal consegue explorar todo seu sentimento e deixar seu gutural totalmente impactante e alto, uma forma que combina perfeitamente com o baixo e faz dessa música uma obra digna desse lindo álbum.

A energia viva aparece na faixa “The Throne of Kings” que começa com uma guitarra puxando o publico para o Wall of Death. O pedal duplo é explorado muito mais nessa faixa e de forma inteligente ele é combinado com os pratos e intercalando com um blast beat da melhor qualidade.
Todo momento é possível notar a guitarra criando uma linha muito inteligente e que consegue sempre explorar a energia e a adrenalina em quem está escutando. O peso maior fica por conta do vocal que consegue ser destruidor conforme a música vai chegando da metade para o fim.

Psycroptic mostra suas qualidades de forma interessante. Mostra um conjunto excelente e uma forma separada de qualidade também, ou seja, cada músico consegue ter um destaque mesmo tocando todos juntos. Uma banda excelente e que sempre consegue mostrar algo que vai grudar em sua mente.






Postado por Renan Martins

domingo, 24 de abril de 2016

Godless Angel: The Conjuring of Four


Localização: Estados Unidos


Derek Neibarger: Everything



Gênero: Death Metal


O mercado do Metal cada vez mais vem ganhando novos nomes de One Man Band, mas dessa vez, em 2016 aparece um lançamento de uma das O.M.B que já tem tempos que consegue construir um som muito bom e criativo dentro da sua vertente. O Death Metal.

Com letras explorando os temas de ocultismo, horror e morte, Godless Angel aparece com seu novo lançamento intitulado “The Conjuring of Four”. A forma que o álbum foi montada foi muito inteligente. Musicas de apenas 1 minuto fazem uma introdução da melhor qualidade possível para as músicas com vocal. Com isso o trabalho se torna ainda mais rico e criativo, marca já oficial de Derek em seu projeto.

Para conseguir criar uma atmosfera perfeita para o tema, a primeira faixa intitulada “The Conjuring of Four” aparece com uma guitarra aguda que consegue deixar uma sensação de perigo no ar e cabe perfeitamente com o começo da segunda música “Twisting Chaos” que tem uma energia muito impactante e uma bateria excelente. A forma que a musica Twisting Chaos foi criada mostrou realmente o porquê Godless Angel é tão interessante e criativa em seus lançamentos, a música consegue sair do mais do mesmo dentro do Death Metal, mas mesmo assim ainda consegue ser Death Metal e com isso o gênero ganha uma forma diferente de mostrar sua qualidade.

O vocal aparece de forma rasgada e com sentimento de dor, ela consegue transmitir claramente isso mostrando total compatibilidade com a letra. Um trabalho realmente muito bem feito e completo.

The Worms Are Eating Him Now faz uma junção impecável do Death Metal antigo com a modernidade da forma de gravar, e com as influências de outros gêneros, realmente um trabalho excelente.
Derek consegue dominar perfeitamente a guitarra e explorar tirando solos e riffs da melhor qualidade conseguindo introduzir o ouvinte em seu mundo de caos e destruição. O vocal aberto abraça o som extremamente carregado do Baixo e isso faz da musica totalmente completa, outra faixa excelente do álbum.

Para encerrar esse ótimo lançamento de 2016, aparece a faixa JawZ que possivelmente pode ser considerada a melhor do álbum. A construção dessa música é realmente muito bem feita. O baixo aparece trazendo uma atmosfera totalmente carrega, quase que narra em silêncio o caminhar de um assassino. A guitarra aparece de forma inteligente criando apenas uma introdução dando uma qualidade totalmente única para a música.
Fazer parte de um gênero tão extremo que é o Death Metal para Derek é apenas uma forma simples de fazer o peso ser ainda mais grudento, realmente uma obra de qualidade e que consegue surpreender por ser feita por apenas um homem, Derek 
Neibarger o Godless Angel. 




Postado por Renan Martins

segunda-feira, 21 de março de 2016

Arandu Arakuaa: Wdê Nnãkrda


Localização: Taguatinga, DF

Nájila Cristina (Vocais/Maracá)
 Zândhio Aquino (Guitarra/Viola Caipira/Vocais/Instrumentos Indígenas/Teclado)
 Saulo Lucena (Contrabaixo/Vocais de Apoio/Maracá)
Adriano Ferreira (Bateria/Percussão)

 
Gênero: heavy metal, música indígena, música regional brasileira



O mais do mesmo vem finalmente deixando de ser estrelinha no cenário brasileiro do metal. Hoje trazemos Arandu Arakuaa, um grupo construído sobre contrastes. Entre o bom e o velho heavy metal e uma inovadora mistura de sonoridades características do Brasil, Arandu Arakuaa insere sua temática voltada à cultura indígena.
Como “Tronco de árvore”, no idioma akwê xerente, chega o segundo full-length da banda. ‘Wdê Nnãkrda’ aprofunda a banda ainda mais em suas raízes indígenas e as desenterra de nós, brasileiros, trazendo-as à tona, à memória.

O álbum começa com “Watô Akwê” que quase como encarregada disso, nos coloca instantaneamente numa aldeia. A faixa posiciona o ouvinte primeiramente como um mero observador, de longe, perscrutando o que ocorre. Não muito depois, quem ouve é incitado a entrar em contato com o que propõe o título – “Sou Indígena”, em akwê xerente -. “Watô Akwê” invoca desconhecidos, invoca cada clã xerente a ritualizar junto, regado a maracás e passos no chão batido.

“Nhandugûasu” aparece sem rodeios uma vez que o ouvinte foi contextualizado – e desafiado – com a faixa anterior. O metal se mostra pesado, belamente cadenciado, trazendo o instrumental como um fiel apoio e intro para acompanhar o gutural de Nájila Cristina. O inesperado quebra lindamente a música pela primeira vez quando acua o metal, acalmando-o numa cantiga de roda com vocais limpos divididos em naipes.

“Hêwaka Waktû” continua com a suavidade do fim de “Nhandûguasu”. É crescente e começa leve e melódica, para logo dar lugar a um coro em uníssono, meio enraivecido. Isso antecede perfeitamente a entrada do gutural combinado com riffs rápidos e também com o contrabaixo bem postado de Saulo Lucena. “Hêwaka Waktû” diminui bruscamente para a melodia do início, com o leve doce da viola. A faixa realmente se apresenta como uma chuva que se aproxima: primeiro a calmaria, depois a garoa que logo vira torrencial e se derruba em raios e trovões até diminuir e cessar por completo.

“Dazihãzumze” chega leve. Traz consigo a tranquilidade de uma comemoração na aldeia. Esse sentimento modesto tem ênfase nos vocais: os ternos vocais de Nájila, após uma longa intro; o vocal rítmico de Zândhio Aquino e ao final, quando a faixa primeiro cresce até virar uma espécie de confronto entre feras da selva, para depois morrer na voz distante de criancinhas brincando.

“Padi”  entra e todo o teu corpo se concentra e imediatamente presta atenção desde o primeiro riff. A bateria muito bem marcada por Adriano Ferreira casa perfeitamente com a voz da vocalista. O contraste aqui ocorre nos vocais, na medida que a música encorpa e carrega a faixa no momento certo, como se um índio calculasse com precisão o momento de lançar sua flecha do arco. A música em seguida entra em estado de espera, ela reverencia a voz de Zândhio porque a segue, acompanhando-a somente de maracás.

A próxima faixa é a instrumental “Wawã”, em 'Wdê Nnãkrda' ela funciona como aquela faixa balada que alguns álbuns de metal trazem. "Wawã" parece ideal para se vislumbrar como seria estar numa barca no meio do Rio Amazonas, observando sua imensidão.

            O inusitado do Arandu Arakuaa não mora somente em quebrar a música até que você não saiba prever o que virá, ele também existe ao colocar ritmos um tanto inesperados para um CD de metal. “Iwapru” começa pesadíssima, obviamente sempre contrastando vocais e unindo-os à guitarra. Logo, o mais inesperado mesmo ocorre: um samba! Este ritmo tão brasileiro aparece na faixa da mesma maneira que some. E como se fosse coisa da cabeça do ouvinte, a música volta para seu heavy/death com a cozinha infalível e assim, gutural, riffs rápidos e bateria finalizam a faixa da melhor forma.

“Nhanderú” e “Ĩpredu”  são as mais mescladas, em questão de mistura entre metal e cantos indígenas, porque é nelas que residem as junções perfeitas entre maracá, guitarras, bateria, vozes limpas em uníssono e gutural fechado.

“Sumarã” é um dos destaques deste álbum ao lado de “Hewâka Waktû” e “Padi”. Os vocais profundos de Zândhio, numa faixa instrumentalmente mais suave, denunciam a seriedade que retrata a faixa, “Inimigo”, em tupi. Riffs distorcidos circundam o gutural de Nájila tão bem quanto alguém a espreita na floresta, fora que no momento em que ela vocifera A-poro-îuká-potar!”, mesmo que não se entenda que aquilo diz “Eu quero matar!”, o ouvinte a sente como uma poderosa frase de efeito.

A última música é a única em português do álbum. “Povo Vermelho” conta, sob vocais suaves, a vida na aldeia antes da invasão do homem branco, até que começam os sussurros... Eles tornam “Povo Vermelho” mais sombria neste ponto. O gutural aqui vem com sua função de choque ainda mais aguçada porque permeia letras de luta e de resistência, e isso tudo é visível quando a vocalista dá vida a afiada estrofe: “O povo vermelho resiste, o povo vermelho resiste / Enquanto houver terra, enquanto houver mata / O povo vermelho resiste, o povo vermelho resiste / Enquanto houver espirito, enquanto houver sangue”.

‘Wdê Nnãkrda’ é um álbum que, embora não seja conceitual, traz a merecidíssima atenção à cultura que aqui já existia antes dos colonizadores. Ressalta o tempo todo que é preciso que a cultura indígena não morra. É preciso impedir que a terra morra, para que a Terra não morra. Os vocais sempre brasileiramente muito bem representados, seja quando cantados nos idiomas indígenas ou em português, dão força e visibilidade à resistência indígena. À essa luta se une Arandu Arakuaa, trazendo sempre sua sonoridade ímpar muito bem construída e encaixada. Com ‘Wdê Nnãkrda’, Arandu Arakuaa se mostra forte como um tronco de árvore, enraizado profundamente com a mãe Terra.







Postado por Caterine Souza