segunda-feira, 23 de maio de 2016

Talrak: Paralysis



Localização: Sorocaba, SP

Matheus Scarlate (vocal, guitarra)
Bruno Jokubauskas (baixo)
Leandro Menossi (bateria)
Luis Doda (guitarra, backing vocals)

Gênero: melodic death/ black metal



Eis aqui o primeiro trabalho da sorocabana Talrak e seu melodeath com traços de black metal. Lançado no início de Maio de forma independente, o conceitual ‘Paralysis’ traz um fenômeno quase místico e desacreditado por muitos: a paralisia do sono.

Antes dos ouvidos perceberem o som, os olhos percebem a arte de capa e vale muito a pena dar a justa atenção que esta merece. A escolha do designer Marcus Zerma pelo cinza como única cor foi extremamente pontual, pois evidencia muito bem a atmosfera do fenômeno. A atmosfera que passa é impactante, mas é também serena. É como uma cena gravada numa carta de tarot, adornada como um camafeu. A expressão da moça é tranquila, seus olhos “externos” fechados indicam que ela dorme, seu terceiro olho aberto indica que sonha. Sim, dorme e sonha, mas o cenário à sua volta é quase prova de que levita a céu aberto, evidenciando os testemunhos sobre o tal fenômeno.

Agora, falemos de som. Uma boa faixa instrumental como intro é capaz de inserir o ouvinte em qualquer ambientação que se deseje, mas é preciso maestria para atingir tal efeito. “Prologue” é eficaz nisso. Etérea e quase alienígena são alguns termos para defini-la. Seus riffs bagunçam as ideias no fluído de espaço e tempo que escorre pela curta música. Fluídas assim, essas dimensões montam uma realidade na qual o ouvinte é ser intrínseco aos sonhos de alguém.

“Symbolizing Artifacts” aparece sem qualquer aviso. O pedal duplo nesta faixa vem para cadenciar e dar movimento à atmosfera densa e obscura criada por “Prologue”. Os vocais, sempre em sintonia, entram no momento correto. A música cresce até certo máximo e depois volta à melodia inicial, sem perder poder. Os últimos riffs quase tornam possível que o ouvinte sinta ácido percorrendo sua pele (referência à parte da letra: “Let me feel the acid running through me”).

    “Ancient Etruria” quebra totalmente a atmosfera criada pelas duas anteriores e traz a sua própria. Leveza e mistério dividem espaço nesta faixa. É como se, trancado em seu quarto, você despertasse de um sonho em que passeia por uma floresta negra sob lua azulada e neve. A música te acompanha na felicidade de um sonho tão agradável, mas depois te faz olhar para a janela, ali tão estranhamente escancarada e logo você vislumbra um de seus ombros e sobre ele misteriosamente minúsculos flocos de neve derretem.

Da esquerda para a direita: Doda, Jokubauskas, Menossi e Scarlate. Foto por Jéssica Dias Gomes


A quarta música é, sem dúvida, a melhor de ‘Paralysis’. Intro matadora, com distorções no ponto certo. Naquele ponto certo em uma banda no qual a linha entre o black e death é tênue. As duas guitarras se apresentam muito bem casadas durante toda a música. O baixo dá a profundidade requerida para acompanhar a letra vociferada e, ainda assim, nítida e impecável pelo vocalista (referência ao refrão: “Taste of the killing, smells of blood / The last breath, make those blood mud” ). A bateria aparece com o poder de te destruir da forma mais rápida possível. Isso porque você só a sente vibrar, por meio de pedal duplo insano e depois pratos, ambos bem intercalados. Os milímetros que separam “Pleasure of Unfair” da perfeição são os infelizmente poucos minutos de música.

Finalmente a autointitulada chega. “Paralysis” traz para a bateria a chance de dar conta de uma intro já muito pesada. E assim, ela perdura, tempestuosa, irrequieta, mas vai morrendo em fade out por uns bons segundos, até sumir súbita e completamente, a exatos modos de como dizem ocorrer durante o fenômeno. A ênfase nesta faixa é claramente para os vocais, até porque nesta faixa temos quase uma descrição poética em gutural do que acontece nesta experiência. Um bom exemplo encontra-se no refrão: “Every second, is like a century / Drowned and raped mentally / Every second, is like a century / Strangled and hanged with intensity”.

“Cursed By the Real Vision of Knowledge” é uma das faixas mais death metal do álbum. Começa em riffs diretos, torna-se bastante melódica até entrar o gutural. A troca constante de tempo nesta faixa, a torna dinâmica o suficiente para não saturar o ouvinte. Destaque para o solo, curto, porém muito bem pontuado, nos segundos finais da música. Pegando referência e licença poética para com o refrão: nossa mente é torcida e retorcida pela faixa, mas não consegue ver a perdição porque aqui novamente temos uma música curta demais para a qualidade sonora que ela apresenta.

A última música chega. “Inquisition Philosophy” chega para fechar o EP com todo o peso que uma última faixa geralmente tem. Essa faixa intercala entre ser mais puramente death e melódica. E quando é melódica, é quase impecável. Destaque valiosíssimo para os solos do meio para o final da música. Vocais principal e de apoio foram muito bem empregados nessa música. Os segundos finais de “Inquisition Philosophy” retomam um pouco da mesma atmosfera criada por “Prologue”, só que muito mais brutal, agressivo do que a faixa de intro ao EP.

Enfim, há bandas que são incríveis desde seus primeiros trabalhos. Este é o caso da Talrak, porque ‘Paralysis’ se mostra um surpreendente ótimo começo. Que os futuros trabalhos da Talrak tenham músicas um pouco mais longas e que continuem como diz a última faixa do EP: “Resist... Exceeded... Improving... Rising...”.



Postado por Caterine Souza

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